quarta-feira, 27 de abril de 2016

Minutos

Deitada com a cabeça no mar
As ondas, as brisas
Vinham frias lá das profundezas
De tudo o que não parava de pensar
Lembrou-se de cada instante
De uma vida que ainda tinha

E se virou pra escutar...
De longe um bêbado errante

Lá de baixo gritava como se soubesse
Que alguém podia ouvir
Era um canto desafinado com rimas secas
Rouco, do sereno de quando anoitece
Sozinho, alado, solidão

Parecia um som só
Tirado de algum disco antigo
Com estrofes que não prestamos atenção

Só aquele minuto a mais
De uma música silenciosa
E como se pudesse tocava as notas
De instrumentos imaginários na sua voz
Apenas mais um sonho...
E então acordava

Porque o mundo pedia que fosse sã.
Em tempos em que tudo é estranho
Inquieta, ouvia então a noite
Que dizia que era tarde
E decidiu escrever
Porque só tinha o semblante 
O rosto, a pele, as cores
Traços de ponta a ponta
De uma história qualquer
De mais ilusões e novos amores
Caiu no sono enquanto escrevia
Sabia do fardo que viria
Mas transformou as lágrimas em poesia.